domingo, 28 de abril de 2013

PENTECOSTES: O caráter divino da Igreja



“Onde está a Igreja aí está o Espírito Santo!”



Pela vida da Igreja, e sua história, podemos ver com clareza a sua transcendência e divindade. Nenhuma instituição humana sobreviveu a tantos golpes, perseguições, martírios e massacres. A sua divindade provém, antes de tudo, d’Aquele que é a sua Cabeça, Jesus Cristo. Ele fez da Igreja o Seu próprio Corpo (cf. Cl 1,18).

Podemos dizer que, humanamente falando, a Igreja, como começou, tinha tudo para não dar certo. Em vez de escolher os “melhores” homens do Seu tempo: generais, filósofos gregos e romanos, entre outros, Jesus preferiu escolher doze homens simples da Galileia, naquela região desacreditada pelos próprios judeus. “Será que pode sair alguma coisa boa da Galileia?” (Jo 1,46).

Para deixar claro a todos os homens de todos os tempos e lugares, o Senhor preferiu “escolher os fracos para confundir os fortes” (I Cor 1, 27), e também para mostrar que “todo este poder extraordinário provém de Deus e não de nós” (II Cor 4,7); para que ninguém se vanglorie do serviço de Deus.

Aqueles doze homens simples, pescadores na maioria, “ganharam o mundo para Deus” na força do Espírito Santo, que o Senhor lhes deu no dia de Pentecostes. “Sereis minhas testemunhas… até os 

confins do mundo”(At 1, 8). Pedro e Paulo, depois de levarem a Boa Nova da salvação aos judeus e aos gentios da Ásia e Oriente Próximo, chegaram a Roma, a capital do mundo na época, e ali implantaram o Cristianismo. Pagaram com suas vidas sob a mão criminosa de Nero, no ano 64, juntamente com tantos outros mártires, que fizeram o escritor cristão Tertuliano (220) dizer que: “o sangue dos mártires era semente de novos cristãos”. Estimam os historiadores da Igreja em cem mil mártires nos três primeiros séculos. Talvez isso tenha feito os Padres da Igreja dizerem que “christianus alter Christus” (o cristão é um outro Cristo).

Mas esses homens simples venceram o maior império que até hoje o mundo já conheceu. Aquele que conquistou todo o mundo civilizado da época, não conseguiu dominar a força da fé. As perseguições se sucederam com os Césares romanos, até que Constantino, cuja mãe se tornara cristã, Santa Helena, se converteu ao Cristianismo. No ano 313 ele assinava o edito de Milão, proibindo a perseguição aos cristãos, depois de três séculos de sangue.

Mesmo depois disso surgiu um outro imperador que quis acabar com o Cristianismo, Juliano, mas deu-se por vencido, e no leito de morte exclamou: “Tu venceste, ó galileu!”. Por fim, por volta do ano 380, o imperador Teodósio tornava o Cristianismo a religião do Império. Roma fora vencida pela força da fé.


“Tu és Pedro; e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja [...] e as portas do inferno jamais prevalecerão contra ela” (Mt 16,18). Depois da perseguição romana, vieram as terríveis heresias. Já que o demônio não conseguiu destruir a Igreja, a partir de fora, tentava agora fazê-lo a partir de dentro. De alguns patriarcas das grandes sedes da Igreja, Constantinopla, Alexandria, etc., surgiam as falsas doutrinas, ameaçando dilacerar a Igreja por dentro. Mas, ao mesmo tempo, o Espírito Santo suscitava os grandes defensores da fé e da sã doutrina, os Padres da Igreja: Inácio de Antioquia (†107), Clemente de Roma (102), Ireneu de Lião (202), Cipriano de Cartago (258), Hilário de Poitiers (367), Cirilo de Jerusalém (386), Anastácio de Alexandria (373), Basílio (379), Gregório de Nazianzo (394), Gregório de Nissa (394), João Crisóstomo de Constantinopla (407), Ambrósio de Milão (397), Agostinho de Hipona (430),
Jerônimo (420), Éfrem (373), Paulino de Nola (431), Cirilo de Alexandria (444), Leão Magno (461) e tantos outros que o Espírito Santo usou para derrotar as heresias nos diversos Concílios dos primeiros séculos.


Assim, foi vencido o perigo do arianismo de Ário, o macedonismo de Macedônio, o monofisismo de Êutiques, o monotelitismo de Sérgio, o novacionismo de Novaciano, o nestorianismo de Nestório, além de muitos erros de doutrina.

E assim, guiada pelo Espírito da Verdade (cf. Jo 16,13), que haveria

de conduzi-la “a toda a verdade”, infalível e invencível, a Igreja foi caminhando até nossos dias. Entre tantos outros combates, venceu a própria miséria dos seus filhos, muitas vezes, mergulhados nas trevas do pecado; venceu os bárbaros que queriam destruir Roma e a fé; venceu os iconoclastas que queriam suprimir as imagens sagradas; venceu os déspotas e reis que queriam tomar as suas rédeas sagradas; venceu o nazismo, venceu a força diabólica do comunismo que fez tantos mártires; enfim, venceu… venceu… e venceu…., não com a força das armas e do ódio, mas com a força
invencível da fé e do amor.
Certa vez Stalin, ditador soviético, para desafiar a Igreja, perguntou quantas legiões de soldados tinha o Papa; é pena que não sobrevivesse até hoje para ver o que aconteceu com o comunismo. Jesus deixou a Sua Igreja na terra, como “Lumen Gentium”, a luz do mundo, até que Ele volte. Todas as outras igrejas cristãs são derivadas da Igreja Católica; as ortodoxas romperam com ela em 1050; as protestantes em 1517; a anglicana, em 1534, entre outras. Só a Igreja Católica existia no século I, no século V, no século X, no século XX; só ela tem uma história ininterrupta de 20 séculos; ensinando, sem erro, o que Cristo entregou aos Apóstolos, sem omitir nada. A sucessão dos Papas é ininterrupta desde São Pedro.
Isso é um fato inigualado por qualquer outra instituição humana em toda a história. Por isso, nenhuma outra igreja pode pretender ser a Igreja que Jesus fundou. Só ela é como Jesus quis: una, santa, católica e apostólica.

A Igreja, portanto, é mais do que uma simples instituição humana, é divina; por isso, ela é como afirmou São Paulo: “A coluna e o sustentáculo da verdade” (cf. I Tm 3, 15). Assim como aquela coluna de fogo guiou os israelitas no deserto, a Igreja nos guia até o céu. Os Padres da Igreja cunharam aquela frase que ficou marcada: “Ubi Petrus, ibi ecclesia; ubi ecclesia ibi Christus” (Onde está Pedro, está a Igreja; onde está a Igreja está Cristo).

Santo Ireneu (140-202) dizia que “onde está a Igreja aí está o Espírito Santo”. E Santo Inácio de Antioquia (†107), já no primeiro século, ensinava: “Onde está Cristo Jesus, aí está a Igreja Católica”. No século IV, Santo Agostinho repetia que: “Onde está a Igreja, aí está o Espírito de Deus. Na medida que alguém ama a Igreja é que possui o Espírito Santo [...]. Fazei-vos Corpo de Cristo se quereis viver do Espírito de Cristo. Somente o Corpo de Cristo vive do seu Espírito”.

domingo, 21 de abril de 2013

PENTECOSTES- Dons carismáticos


Estamos nos aproximando da Festa de Pentecostes; 
conhecer sempre mais sobre os benefícios que o Espírito Santo nos trás é abrir-nos cada vez mais à vida de graças que o próprio Jesus nos deixou por herança. 

 Dons Carismáticos

A nossa vida espiritual tem duas dimensões, 
primeiro uma dimensão voltada para dentro de nós 
e depois outra voltada para fora.

Na segunda dimensão está a Igreja, é a dimensão de comunidade, 
a dimensão de caminhar com o povo de Deus, 
e Deus nos concede então os dons carismáticos, 
que não são necessariamente para nós, mas para os outros, 
por exemplo o dom da sabedoria que não é a sabedoria 
para alimentar a nós mas para alimentar os outros;
não apenas para nos orientar, como o dom da fé, da ciência, o dom de cura, de milagres que são dons, como diz São Paulo, para o bem da Igreja, para os outros, para utilidade de todos.

Quando nós exercemos os dons carismáticos não quer dizer 
que já somos santos, porque Deus pode usar quem Ele quiser 
da maneira que quiser, mas é preciso dizer que quanto mais santo 
a pessoa for, mais disponível está para Deus, 
por isso os dons carismáticos não estão separados dos dons 
de santificação, e eu até diria que existe uma grande interface 
entre eles, quanto mais a pessoa vive os dons de santificação 
mais aptidão ela tem para viver os dons carismáticos.

Na dimensão interior estão os Dons de Santificação.

Os Dons Carismaticos são:

- Dom da Fé

- Dom da interpretação

- Dom da Profecia

- Dom da Cura

- Dom de línguas

- Dom de Milagres

- Dom do Discernimento

- Palavra de Ciência

- Palavra de Sabedoria

Prof. Felipe Aquino



"O inimigo age sorrateiramente. Para distinguir sua ação em nosso ambiente, o único meio é o Espírito Santo; ninguém tem por si discernimento. 
Paulo VI destacou em um de seus pronunciamentos: "O dom dos dons para os tempos de hoje é o discernimento". E é mesmo, do contrário somos levados por ventos de várias doutrinas, a mesmo, sem saber para onde vamos.
Para possuir discernimento, o básico é aprender a ouvir o Senhor; suas emoções, inspirações. Muitas vezes o sentimento dentro de nós, movendo-nos: 

"Faça assim, não diga aquilo", mas em geral sepultamos isso, fazendo até o contrário. O Espírito Santo dá o dom do discernimento àqueles que estão n'Ele, imersos, banhados n'Ele. Àqueles que dão tempo à escuta, à oração, à Palavra. 

Temos de ser dóceis à condução do Espírito. É muito necessário distinguir o que vem de Deus, de Jesus, do Espírito Santo, de Maria, dos anjos. Caso contrário, tudo se confunde na nossa cabeça. Deus quer nos dar essa graça, o dom de discernimento dos espíritos, que

é resultado de nossas caminhada pela tenda da oração. 

É preciso caminhar, progredir e perseverar nos grupos de oração, na Palavra de Deus, na docilidade e no trabalho do Senhor. Assim, vamos nos constituindo terreno cada vez mais próprio para a semeadura. Percebemos que uma palavra não vem de Deus, mas do maligno, quando ela nos faz mal, nos agride. 

A falta de discernimento é própria dos iniciantes e dos imaturos. 
É claro que Deus nos salva nessas situações. 
Temos sido salvos por Ele, que quer nos dar, cada vez mais, 
o discernimento dos espíritos, a capacidade de perceber e de sentir em nós o que é de Deus e o que não é; 
o que vem do Espírito Santo e o que vem do mal. 

Temos de ser cuidadosos 
quanto a isso: pois em nosso espírito humano se misturam 
o orgulho, a vaidade, o ciúme, 
a inveja, rivalidades 
e competições com os outros. 

Se não temos o discernimento dos espíritos, podemos pensar que vem de Deus algo que na verdade não vem. 
Trata-se apenas de orgulho e vaidade de minha parte, 
e eu engulo tudo como se fosse de Deus. 



O senhor tem para nós esse grande dom, 
esse precioso dom que é o discernimento dos espíritos. Embora ele seja um dom, embora nos seja dado gratuitamente, é resultado, também, da nossa caminhada. Precisamos caminhar e amadurecer e o que nos amadurece é a perseverança, 
a oração, a Palavra de Deus e a docilidade. 
E com a maturidade vem também o discernimento dos espíritos." 

Que Deus  nos dê esse grande dom!


Peçamos a Jesus a graça da caminhada, do crescimento, para que possamos trilhar o seu caminho com perseverança. 
Peçamos que, amadurecidos, crescidos e arraigados em Jesus, tenhamos todo discernimento, para poder servir ao Senhor cada vez melhor; como bons e prudentes, filhos a quem 
o Senhor pode confiar tudo o que Ele tem de mais precioso.


ORAÇÃO
 "Senhor, Jesus, peço o discernimento dos espíritos. 
Preciso muito desse dom, para não confundir as coisas. 
Não quero saber de nada de mal, não quero confundir. 
Quero ser guiado, conduzido, orientado por ti. 
Dá-me, Senhor, o dom do discernimento dos espíritos. Amém!"



Fonte: Wiki canção nova

O BOM PASTOR-"Escuto a sua voz e depois, o sigo"


O BOM PASTOR

4º Domingo da Páscoa (Jo 10,27-30)

— Naquele tempo, disse Jesus:
27““As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem. 
28Eu dou-lhes a vida eterna e elas jamais se perderão. E ninguém vai arrancá-las de minha mão.
29Meu Pai, que me deu estas ovelhas, é maior que todos, e ninguém pode arrebatá-las da mão do Pai.
30Eu e o Pai somos um”.
Reflexão
As ovelhas que escutam a voz é que conhecem o Pastor. 
A afirmação de Jesus referida às suas ovelhas, 
“eu lhes dou a vida eterna” (v. 28), estarrece os judeus, 
pois quem pode dar a vida eterna, a não ser Deus? 
Mas é em Jesus que Deus nos faz viver plenamente. 
As ovelhas são confiadas a Jesus pelo Pai (v. 29). 
É nas mãos do Filho e do Pai que as ovelhas estão. 
Nas mãos de Deus as ovelhas estão em segurança. 
Nas mãos fortes do Filho as ovelhas jamais se perderão. 
O autor do Deuteronômio diz: “Todos os santos estão em tua mão” (Dt 33,3). Jesus afirma uma unidade profunda entre ele e o Pai: 
“Eu e o Pai somos um” (v. 30). 
Para quem todo dia recitava o Shemá Israel, 
a afirmação de Jesus soava a blasfêmia e escândalo.
(Carlos Alberto Contieri, sj)

Leitura Orante



Oração Inicial
Preparo-me para a Leitura Orante, invocando o Espírito Santo:
"Espírito Santo,
dai-nos o dom do conselho,
que ilumina a nossa vida e
orienta a nossa ação segundo vossa Divina Providência."

1- Leitura (Verdade)

O que diz o texto do dia?

Leio atenta e lentamente 
o texto do dia: Jo 10,27-30.
"As minhas ovelhas escutam a minha voz; eu as conheço, 
e elas me seguem. 
Eu lhes dou a vida eterna, 
e por isso elas nunca morrerão. Ninguém poderá arrancá-las 
da minha mão. 
O poder que o Pai me deu é maior do que tudo, e ninguém pode arrancá-las da mão dele. 
Eu e o Pai somos um."
Observo o local, a ocasião, o fato em si, que pessoas participam e que assunto é tratado.
O povo se diz ainda em dúvida. Jesus então deixa claro algumas coisas:
O seu poder é o poder do Pai.
Ele conhece quem é do seu rebanho, quem escuta sua voz e o segue.
Jesus afirma que ele e o Pai são um. Revela a sua verdadeira identidade.

2- Meditação (Caminho)

O que o texto diz para mim, hoje?
É este Jesus do Evangelho que conheço e sigo? 
Escuto a sua voz e depois, o sigo? 
Ou tenho um Deus que eu imagino, inclusive de acordo com as minhas necessidades? Deixo-me conhecer por Deus ou vivo longe, mascarando a minha fé com crendices? 
Busco o Deus das consolações ou consolações de Deus? 
(pequena pausa para responder a estar questões).
(Leia também a Mensagem para o 50º Dia Mundial de Orações pelas Vocações. Está no blog Paulinas Comunica: http://paulinascomunica.blogspot.com)


3- Oração (Vida)

O que o texto me leva a dizer a Deus?
Rezo, com salmos ou outras orações e concluo:

Oração da manhã
Senhor, nós te agradecemos por este dia.
Abrimos nossas portas e janelas para que tu possas
Entrar com tua luz.
Queremos que tu Senhor, definas os contornos de
Nossos caminhos,



As cores de nossas palavras e gestos,
A dimensão de nossos projetos,
O calor de nossos relacionamentos e o
Rumo de nossa vida.
Podes entrar, Senhor em nossas famílias.
Precisamos do ar puro de tua verdade.
Precisamos de tua mão libertadora para abrir
Compartimentos fechados.
Precisamos de tua beleza para amenizar
Nossa dureza.
Precisamos de tua paz para nossos conflitos.
Precisamos de teu contato para curar feridas.
Precisamos, sobretudo, Senhor, de tua presença
Para aprendermos a partilhar e abençoar!



4- Contemplação(Vida e Missão)

Qual meu novo olhar a partir da Palavra?
Meu novo olhar revela a minha identidade de filho/a de Deus.
Inspira-se no pensamento de Nolan, no livro “Jesus Hoje”. 
Diz ele: 
“Confiar em Deus, como Jesus confiava, não significa viver agarrados a Deus. Significa libertar-nos de tudo, a fim de entregarmos nossas vidas a Deus (...) Não precisamos agarrar-nos a ele, porque seremos agarrados por ele... 


como uma criança nos braços do seu pai”.(p. 194)

Bênção
"- Deus nos abençoe e nos guarde. Amém. 
- Ele nos mostre a sua face e se compadeça de nós. Amém. 
- Volte para nós o seu olhar e nos dê a sua paz. Amém. 
- Abençoe-nos Deus misericordioso, Pai e Filho e Espírito Santo." Amém.



Fonte: 
Congregação do Santíssimo Redentor

sexta-feira, 12 de abril de 2013

A CONVERSÃO DE SÃO PAULO


"Quem és, ó Senhor?"
Espiritualidade


A revelação no caminho para Damasco (Para melhor reflexão você pode ler: ( o capítulo do livro" Para se tornar como Jesus. Itinerário de exercícios espirituais para jovens".[1] ) e (At 9,1-9), e consultar as citações bíblicas no lado direito do blog.)
A partir do texto bíblico sobre a conversão de São Paulo, os autores propõem a mudança de mentalidade que o Evangelho supõe para todo aquele(a) que se coloca diante de Jesus Cristo. O elemento central da narração é a pergunta: “Quem és, ó Senhor?”, que demonstra como Paulo havia perdido a chave de acesso a Deus e a si próprio. Assim, como surgiu para Paulo, uma luz nova brilhará para aquele que se confronta com o Senhor, a grande luz.

Ponto de partida

A revelação no caminho para Damasco é, para Saulo, o primeiro passo de uma longa viagem.





A imagem que Saulo tinha de si e de Deus vira um monte de cacos e precisa ser recomposta para que possa aflorar a identidade mais profunda e mais verdadeira de Deus e do homem.
O elemento central da narração de Atos 9,1-9 não é a luz que resplandece no céu ou a queda ao chão, mas a pergunta: 

“Quem és, ó Senhor?”que demonstra como Paulo havia perdido a chave de acessoa Deus e a si próprio. 
A experiência no caminho para Damasco se insere num percurso muito mais amplo, que vai além do trecho de estrada que liga Jerusalém à Síria.

Esse percurso é assinalado por um evento decisivo
(o apedrejamento de Estêvão); 

é caracterizado por uma progressão de violências que reforçam o zelo de Paulo;é marcado pela progressiva aquisição de uma identidade
por parte da comunidade cristã; 

e, sobretudo, é perpassado pela presença do Espírito Santo. 


Esse mesmo Espírito, que desceu sobre os primeiros discípulos e começou lentamente, direcionando-os para além de Jerusalém, agora está pronto para abrir as portas ao mundo pagão;





e, para fazer isso,agarra ninguém menos do que Saulo, o fariseu decidido a deter todos aqueles que se propõem questionar os princípios da identidade judaica, relativizando-os com a abertura ao mundo pagão e com a centralidade de Cristo. 
Aquilo que Paulo sente é tão forte que a sua primeira reação não é totalmente positiva:ele se encolhe no seu mundo em pedaços, engolido pela obscuridade, rejeitando aqueles meios de subsistência
que lhe garantem a vida, deixando-se, por certos aspectos, morrer. A única luz que brilha nas trevas daquilo que ele estava vivendo
é a oração: herança preciosa,que desde sempre o acompanha e é sinal de uma graça que,agindo nele, o torna disponível para interiorizar os vários aspectos do inesperado encontro com o Ressuscitado.
Nele, o rosto de Deus e da comunidade cristã serão totalmente recompostos.



Saulo por ele mesmo…

“De fato, eu vos transmiti, antes de tudo, o que eu mesmo tinha recebido, a saber: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e, ao terceiro dia,foi ressuscitado, segundo as Escrituras; e apareceu a Cefas e, depois, aos Doze. 



Mais tarde, apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma vez. Destes, a maioria ainda vive e alguns já morreram. 
Depois, apareceu a Tiago; depois, a todos os apóstolos;
por último, apareceu também a mim, que sou como um aborto.
Pois eu sou o menor dos apóstolos, nem mereço o nome
de apóstolo, pois eu persegui a Igreja de Deus.
É pela graça de Deus que sou o que sou.
E a graça que ele reservou para mim não foi estéril;
a prova é que tenho trabalhado mais que todos eles,
não propriamente eu, mas a graça de Deus comigo” (1Cor 15,3-10).

“Quando, porém, Aquele que me separou desde o ventre materno e me chamou por sua graça, agradou revelar-me o seu Filho, para que eu o anunciasse aos pagãos, não consultei carne e sangue, nem subi a Jerusalém para ver os que eram apóstolos antes de mim. Pelo contrário, parti para a Arábia e, depois, voltei ainda a Damasco” (Gl 1,15-17).

“Precisais deixar a vossa antiga maneira de viver e despojar-vos do homem velho, que vai se corrompendo ao sabor das paixões enganadoras. Precisais renovar-vos, pela transformação espiritual de vossa mente, e vestir-vos do homem novo, criado à imagem de Deus…” (Ef 4,22-24).



Vivência

Em busca do verdadeiro eu
“Quem és, ó Senhor?” 


A pergunta que Paulo faz no caminho para Damasco obtém um duplo efeito: a revelação de Jesus e o doloroso esfacelamento da imagem de si que envolve Paulo.




E esse esfacelamento será decisivo para uma libertadora consciência da identidade profunda do seu eu.

Tudo isso se refere também a nós:
Como fazer para unificar as várias ou conflitantes imagens que temos ou que procuramos atribuir aos outros, dependendo do contexto?
Como unificar as experiências e expressões afetivas?
Como aprender a administrar as próprias emoções e sentimentos para poder caminhar na autenticidade e na liberdade?
Provavelmente se trata de situar-se bem naquilo que se vive no presente; se trata de concentrar-se sobre aquilo que acontece comigo e ao meu redor, hoje, buscando no cotidiano a luz necessária  para compreender o próximo passo a ser dado.
(cuidado: a luz ilumina, mas pode também “ofuscar”, como aconteceu com Paulo)
Isso requer a arte de “aprender a escutar-se” para poder compreender se efetivamente estamos à escuta daquela voz que responde à nossa pergunta de sentido:
“Quem és?”
“Eu sou Jesus”.
É necessária, com certeza, uma força que nos dê a energia para poder afrontar este momento; tal força é o Amor, que pode manifestar-se na atitude do estupor, mas também na do turbamento (pensemos em Maria, no anúncio do anjo, ou em Saulo, ao viver aquela situação de forte desconforto existencial) que criam espaço em si para as perguntas de sentido que abrem à plenitude da própria identidade, favorecendo a passagem gradual:


Do desânimo à esperança realista;Do ativismo neurótico ao abandono;Da preguiça ao compromisso apaixonado;Do orgulho à humildade (que está longe da humilhação);Da indiferença à disponibilidade em dar tudo.


“Escutar-se para escutar a Palavra”
requer também a capacidade de ter uma adequada memória de si que ajuda a colocar a própria vida num continuo espaço-temporal que mantém juntas as experiências:


-negativas (para Saulo, a perseguição)
-e as positivas (o encontro com o Ressuscitado).
Trata-se de passar da memória orgulhosa de si
para a memória grata e reconhecida.


Os Padres do deserto, a este respeito, reafirmavam a necessidade de “ruminar” a Escritura.

Num apotegma atribuído a Antônio do deserto se diz:Para o camelo basta pouco alimento. 

Ele o conserva dentro de si enquanto não retorna ao estábulo, o traz de volta à boca,o rumina até que entre em seus ossos e em sua carne…


Imitemos o camelo: 
recitemos cada palavra das Santas Escrituras guardando-a em nós até que a tenhamos cumprido.
Trata-se de nutrir-nos com o alimento da Escritura para permitir às mãos de Deus, presentes na Escritura meditada e rezada, levar a cumprimento aquilo  que iniciou conosco e em nós. 


Trata-se de “informar-nos” e “formar-nos” na escola da Palavra para que esta nos conduza pelas estradas da nossa cotidianidade. Fazer memória da nossa história com Deus, através da luz da oração, significa introduzir-nos na história de salvação pela qual já fomos gerados, juntamente com Aquele que nos amou 
e deu a si mesmo por nós. (cf. Gl 2,20).



Orientação espiritual

Até… se tornar Jesus...
No caminho para Damasco o jovem Saulo compreende,através da experiência do encontro,
que é bem conhecido do Senhor! 


E compreende também que Deus tem um desígnio de felicidade muito elevado para ele.
Saulo se rende, também porque fica logo desarmado, pela força da luz; e, depois de um momento inicial em que se sentiu perdido, responde tornando-se companheiro do Espírito que, como lembrávamos, sintoniza sempre com os nossos desejos mais profundos.
Este caminho de assimilação a Jesus, para Paulo, durou a vida toda e foi tão transformante a ponto de fazê-lo afirmar, perto do seu final: 

“Eu vivo, mas não eu: é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20);
em outros termos,
“quem olhou e olha para o meu rosto, reconhece Jesus”.

E, se é verdade que o nosso companheiro de viagem, o Espírito, suscita em nosso coração emoções e sentimentos de paz, alegria e coragem, é lícito perguntar-se:Até que ponto devemos nos colocar em jogo?Quanto convém arriscar?Por quanto tempo e voltados para que objetivo?
A resposta parece ser muito clara e decidida, mas também corajosa:


Até que sejamos “transformados” em Deus!
Ou seja, até realizarmos no dia a dia toda a beleza interior da qual somos portadores.
Então é preciso coragem?
Certamente!




A coragem, a determinação e a força interior 
são presentes de Deus que já trazemos dentro de nós;é só questão de “valorizá-los” (lembra-se da parábola dos talentos?).


Um grande Padre da Igreja, Irineu de Lião, chama a atenção para esta possibilidade com uma expressão muito clara:
“Deus se fez homem para que o homem se tornasse Deus”
(Contra as heresias 3,19,1).
Em outras palavras: para mim e para todos é possível se tornar um outro Jesus! 


Não com um desdobramento de personalidade (como pode acontecer a graves patologias), mas com um processo de maturação: quanto mais eu amadureço na beleza da minha personalidade, mais emerge a beleza de Deus!

Certamente tudo isso envolve o desafio do “caminhar”, e sabemos muito bem como é importante preparar-nos com estratégias adequadas. A proposta que nos é feita é a de acompanhar o nosso “treinamento” com uma adequada “alimentação”, cujos ingredientes são os seguintes:

A Palavra de Deus: a fim de que o nosso conhecimento de Jesus se torne mais profundado e possamos entender melhor 
“o seu pensamento”.
A vida de Jesus: para que o seu modo ordinário de vida possa nos deixar curiosos, possa nos questionar e, quem sabe, se tornar o nosso.

A Eucaristia: a fim de que a vida de Jesus passe para nós, fique bem em nós e nos ajude a pôr ordem, iluminando os ângulos mais obscuros nos quais possamos encontrar aquilo que pouco a pouco nos transforma nele.
Se esta perspectiva nos parece pouco adequada a nósou muito “elevada”, estejamos atentos:
as coisas belas são as que se conquistam.

Não nos assustemos com os obstáculos que poderemos encontrar e que são fruto da nossa emotividade, instintividade ou também do inimigo do bem.

Estes obstáculos, que podemos chamar de“escolhos”  precisam ser monitorados. (pensemos no mar, no rio e na
água que chega improvisadamente sobre o escolho: seu curso sofre um desvio, mas não um bloqueio!), 

Vejamos os principais:

-O primeiro é o desencorajamento:
É como se “alguém” nos dissesse: 

“Não, não se iluda; quanta coisa você começou e não conseguiu acabar? Quantas ocasiões você perdeu? 
Desta vez, nem tente, pois seria outra derrota”.
Como reagir?
Com uma ponta de santo orgulho e confiança: é este o momento de arriscar mais.
Parece coisa de louco?
O que é a normalidade?

-Outro obstáculo:Uma forma de cansaço, quase uma espécie de preguiça intelectual. Neste caso, o “alguém” de antes nos sussurra:  “Sim, tente, mas sem se cansar; satisfaça-se com o mínimo esforço; afinal, não é necessário muito… por que exagerar?
Quem está o obrigando?”.
O desafio, para nós, é pôr em ação uma grande tenacidade e o mais intenso empenho possível, sabendo que é uma questão de felicidade.

-Uma terceira fadiga é a superficialidade:Também neste caso nos é dito: 

“Não se envolva demais como normalmente faz; encare o dia assim como ele se apresenta; afinal, passa, e amanhã será outro dia.Não aprofunde a coisa, não perca um tempo que pode dedicar a algo que vai fazer você ficar bem logo.
Por que se comprometer numa caminhada de longo prazo?”.

O desafio, aqui, é o de assumir com decisão a escolha feita, com autonomia e liberdade, para continuar a treinar com agilidade.

Neste dia:

Hoje procurarei fazer uma lista de alguns dos meus medos mais comuns (medo de não conseguir, de me bloquear, de não ser aceito etc.); 

a seguir, e “sem espiar”, faço uma lista dos meus desejos, sonhos etc.
No final deste trabalho, confronto e faço a ligação de cada medo com o desejo correspondente…A surpresa?Descobrir que por trás de cada desejo há um medo e vice-versa; ambos, porém, são “nuances do amor”!

Então digo isso ao “treinador” Jesus e a quem mais está me acompanhando no caminho espiritual, para que eles possam me dar algum puxão de orelha sobre como administrar o conjunto da obra do ponto de vista humano e espiritual!



E vamos embora trabalhar e levar este Cristo aos nossos irmãos! 

Adaptado de:
[1] Ferrante, Tosca; Gandolfo, Guido; Perego, Giacomo. São Paulo, Paulinas 2012.
http://www.cibercatequese.org.br/index.php/espiritualidade/espiritualidade-4/